sábado, 24 de novembro de 2007

Personagens com importância...

"Sempre que penso em escrever mais uma memória para o blog, lembro-me de centenas de outros temas sobre o passado recente da Abrunheira que seriam de muito interesse.
Desta vez, optei pelo comércio porta a porta, contando a história de alguns personagens que por aqui passavam mais ou menos ocasionalmente, o que mostra bem o que era esta terra há bem poucos anos.

Começo pelo incontornável "Pitrolino". Este senhor conduzia uma carrinha de caixa fechada e fazia, rua a rua, venda de materiais de mercearia e, inevitavelmente, de petróleo. A sua chegada era anunciada pelo apitar da buzina da viatura, e passados alguns momentos, a frente do seu estabelecimento, que era a lateral da carrinha, estava repleta de clientes que, ao longo dos anos, se tornaram fieis e que o visitavam sempre que por aqui se via. A última vez que me recordo de ver a carrinha por cá, talvez já não fosse a mesma pessoa, mas um filho do primeiro, e terá acontecido num período que medeia entre 5 e 10 anos atrás.
Outro acontecimento de índole comercial, mas também lúdica, e que juntava muitos dos moradores, era o aparecimento de umas camionetas de grande dimensão que vendiam artigos para o lar. O que alertava a população cá da terra era a música estridente que ecoava pelos megafones e que podia ser ouvida em todo o lado.
Normalmente, estas personagens apareciam ao fim da tarde e desapareciam ao crepúsculo, da mesma forma como apareciam.
O "staff" do estabelecimento comercial ambulante era constituído por duas ou três pessoas da mesma família. Uma delas, normalmente uma senhora, começa uma lenga-lenga para vender, por exemplo, um cobertor - falo do cobertor porque tenho esta imagem presente:
- Ora muito boa tarde minhas senhoras e meus senhores, hoje trazemos a esta simpática aldeia alguns dos mais inovadores produtos que podem ser encontrados nas melhores fábricas e casas da especialidade do país!
Hoje temos para vos oferecer este magnifico cobertor que numa loja da especialidade pode custar quinhentos escudos ou mais, quinhentos escudos minhas senhoras e meus senhores, mas hoje, especialmente para V. as Ex.as, não vai ser vendido, nem por quinhentos, nem por quatrocentos, mas apenas por trezentos escudos, só 300 "méreis", minhas senhoras e meus senhores. E quem comprar não leva só um cobertor, leva dois, dois, dois magníficos cobertores e para não ficarem tristes ainda recebem um magnifico faqueiro, oferta da casa!
Depois da lenga-lenga repetida duas ou três vezes lá se ouvia:
- P`ra aquela senhora, Manel, sai um magnífico conjunto de cobertores, por 300 "méreis" e um também para aquele senhor ali atrás.
Bem, as ofertas iam tanto quanto me lembro, de 20 "méreis" - um Santo António verdinho, até 500 ou mesmo mil escudos.
Não consigo precisar desde há quanto tempo isto não acontece, já se varreu da minha memória e não consigo encontrar nenhuma referência temporal para lá chegar.
Este espectáculo acontecia, desde que eu me lembro, em frente à tasca da Ti Emília."
Frederico Madeira
CONTINUA....