domingo, 25 de novembro de 2007

Fundação da URCA

O amigo e colaborador Silvestre Félix continua a contar a história da URCA.
FUNDAÇÃO
Capítulo I
"A Assembleia de Fundação foi bem concorrida e incluía também pessoal do antigo Grupo Desportivo. Estou a lembrar-se, por exemplo, do António Nascimento e do Francisco Cruz. Provavelmente estariam mais mas, no momento em que escrevo, não me recordo de mais ninguém.
Este dia 3 de Janeiro de 1975 foi um marco importante para a história contemporânea da Abrunheira, e devia ser comemorado com alguma dignidade. Durante alguns anos a data era assinalada como merecia, mas depois, foi-se perdendo o hábito.
Para quem não conhecia a época e as circunstâncias, é importante saberem que o Sócio da URCA, ou melhor , a Sócia, registada nesse dia com o número um, foi a Cristina Peniche. Tinha 14 anos, e a seguir era uma escadinha até aos 20 anos, que era os que eu tinha.
Neste início de 1975, o País vivia um trajecto revolucionário que depressa chegaria ao "verão quente" de 75, ponto alto do PREC (Processo Revolucionário Em Curso), com todas as fracturas inerentes às circunstâncias. Com a crescente influência dos diversos partidos políticos, por um lado, em cada um de nós, por outro em relação às instituições, começou a não ser fácil aguentar a unidade, marca d'água do nosso caminho anterior. Continuo a pensar que aquele núcleo duro foi conseguindo manter aquela dinâmica, agora adaptada a uma situação completamente diferente, porque garantiu a abertura política, do ponto de vista partidário. A nossa unidade foi mantida com ligações de alguns de nós a diversos partidos,
embora sempre de esquerda.
Entretanto preparamos o Carnaval de 75 com um programa de estalo. Como já tinha acontecido antes, o
Saraiva da serração disponiblizou umas instalações que tinha a servir de armazém, para apresentarmos o nosso programa. Foi um grande sucesso, e isso deu-nos mais força ainda para continuarmos, no entanto, era cada vez mais sentida a falta de instalações, não só para sede, mas local onde pudesse-mos desenvolver uma actividade cultural e recreativa continuada e devidamente programada.
Nesta altura, e a exemplo do que se passava um pouco por todo o País, começamos a inventariar possíveis locais abandonados, ou que pelo menos não estivessem a ser usados, afim de nos instalarmos e podermos desenvolver os nossos projectos. A discussão à volta desta temática não foi fácil, pois embora a prática estivesse banalizada por toda a parte, havia quem achava que não devíamos ir por aí, e, foi exactamente nesta fase, que a nossa unidade sofreu algum abalo. De qualquer maneira a lista dos locais possíveis estava feita, e a "Quinta do João da Batata" que há muito deixara de produzir batata, coelhos e outra criação, era apontada como favorita. Tudo muito em segredo, porque, tal como noutras coisas, a surpresa era decisiva para a coisa correr bem.
Entretanto eu tinha ido cumprir o "serviço militar obrigatório" a 3 de Março daquele ano de 1975, a uma segunda-feira , muito mal dormido e mal do estômago porque a festa de véspera na adega do Zé Carmo Silva, tinha sido de arromba. Oito dias depois estamos no célebre 11 de Março de 1975. Eu maçarico, deram-me uma G3 e fui para um cruzamento algures na Figueira da Foz, revistar carros (a G3 estava descarregada). Comigo estavam outros nas mesmas circunstâncias. A minha unidade era afecta ao MFA, de maneira que o lema era "tudo pelo PREC". Os dias para mim foram correndo na Figueira da Foz, até que nos vamos aproximando do primeiro aniversário do 25 de Abril. É claro que naquela época não havia telemóveis e mesmo os outros telefones não existiam em todo o lado, mas mais ou menos eu ia sabendo que as coisas na Abrunheira iam andando. Aí talvez no dia 19 de Abril, quando no quartel já se fazia as escalas, para ver quem votava para as "Constituintes" no quartel e quem tinha que ir a casa votar, recebo correio da Abrunheira, do Zé Carmo Silva, com uma conversa completamente enigmática. Era um jogo para eu descobrir o que tinha acontecido ou ia acontecer em 18 de Abril (dia anterior). A solução do problema era exactamente a "Quinta do João da Batata". O pessoal tinha "ocupado" a quinta. Consegui telefonar e falar com a minha Mãe, que me disse mais ou menos o que eu já sabia. Imaginem como eu fiquei, sem poder participar, sem dar o meu contributo, e tanto que havia para fazer e eu com uma G3 na mão a aturar gente que nos obrigava a brincar aos cowboys. Sorte a minha, tinha que vir a casa para votar no dia 25 de Abril. Ia poder estar com o meu pessoal. E vim ver e finalmente participar no acontecimento da semana; "A ocupação da Quinta". Participai no entusiasmo da quase totalidade da população da Abrunheira. Este dia 18 de Abril passou a ser comemorado como véspera do grande dia 25 de Abril.
A partir daqui a história da URCA é outra, será a própria Abrunheira, pois tudo se vai passar aqui. Nós queria-mos muito mais do que (que foi muito) veio de facto a acontecer. O nosso grande objectivo era a criação do Centro Social. "
….Continua….
Silvestre Félix
Novembro 2007