quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Os dois irmãos...........

As conversas são como as cerejas, que é como quem diz, as histórias.
O Frederico dá a deixa o Silvestre completa. Assim é que é e aos poucos vamos conhecendo a Abrunheira de outros tempos.
Tenho procurado alguma informação, mas para além do cemitério pouco mais tenho encontrado, mas continuo a insistir.
Cá vai então a história dos dois irmãos:

"Tomando como deixa o texto do Frederico acerca da minha Tia Ermelinda…
E do meu Tio João, este, irmão do Meu Pai. Estes os dois, o Zé e o João muito amigos, e a partir de determinada altura da vida, inseparáveis. O João mais velho e o Zé, Meu Pai, que morreu primeiro. De boa saúde gozava, mas a trabalhar morreu. Foi quando eu tinha 22 anos.
Todos nós sentimos muito e muito mais a Minha Mãe, mas o João, o Irmão mais velho, no seu silêncio e com a vida muito grande contada em anos sofridos de trabalho e canseiras, sentiu de outra maneira. Combinou com ele próprio que sem o Irmão mais novo, a vida tinha ainda menos sabor, e então não ia fazer nada para lhe dar tempero. Sofreu muito o Meu Tio João com a morte do Irmão mais novo, O Meu Pai, que o acompanhava no final da sua vida grande contada em anos de canseiras.
O Meu Tio João, companheiro casado de muito tempo da Minha Tia Ermelinda, que era mulher ribatejana de Constância, que das aventuras da sua juventude no campo me contava enquanto amassava os bolos ou o pão, que bem fazia para comer em casa e vender levada pela Burra a puxar a carroça até à Abóboda ou, pelo outro lado até ao Monte Estoril. A mesma Burra e carroça que também levava pelos mesmos caminhos fruta que tanto eu gostava, porque eu ia com a minha Tia Ermelinda nestas viagens na carroça, e noutras alturas do ano, no Inverno, os queijinhos frescos porque ainda não havia legislação UE, e eram bons. O que eu gostava mais era dos pastéis de nata. Nunca mais comi iguais.
Como ia dizendo, o Meu Tio João que foi muito tempo contado em anos guardador de rebanhos de ovelhas e cabras, estava a chegar ao fim do Seu tempo. O Zé tinha morrido e ele nem sequer tinha mais rebanho de ovelhas ou cabras. Sem tempo, e com a vida por um fio, morreu muito pouco tempo contado em meses desde o tempo da morte do Meu Pai.
Paz Às Duas Almas."
Silvestre Félix
Novembro 2007