terça-feira, 25 de dezembro de 2007

O cinema na URCA


Existem coisas engraçadas neste blog. Uma delas está relacionada com os colaboradores, que aos poucos vou conhecendo. Hoje, analisando duas histórias aqui contadas por pessoas diferentes verifica-se nitidamente que são pessoas de diferentes gerações, pois cada uma delas conta o que lhe ficou na memória sobre o cinema em locais distintos. O Silvestre, fala da antiga sociedade, enquanto que o Frederico se refere à URCA. Qualquer um dos locais foram certamente importantes para as gentes da Abrunheira indiferente às suas idades.

"Agora, é quase impossível acreditar que o pavilhão da URCA já serviu de sala de cinema. Antes disso, a “sala” foi noutros sítios que eu desconheço.
Tanto quanto me consigo recordar, as memoráveis sessões de cinema aconteciam às quartas-feiras. Fui lá vezes sem conta, mas ver filmes, vi talvez um ou dois, as outras vezes só íamos por não ter mais nada que fazer.
No Inverno, a sala era fria, gélida mesmo. Os assentos eram cadeiras de madeira desconfortáveis, colocadas em fila lado a lado, como se duma sala de espectáculos se tratasse de verdade. Com mais algumas pequenas diferenças, além daquelas que eu contei. Uma delas, era o facto do filme ser projectado na parede no lado do edifício oposto ao palco, directamente no reboco branco, ou num pano tipo lençol. Outra, era não existir na sala o habitual pano a correr no início da sessão, nem o sinal sonoro que dava inicio às várias partes da sessão. Por outro lado, os filmes estarem sempre a partir-se, ou faltarem partes importantes da história, também era normal.
A parte mais curiosa destas sessões cinematográficas, nem sequer era o filme, mas a propaganda que era feita antes da hora do espectáculo.
O senhor que apresentava o cinema, ia ao pavilhão montar a sua máquina de projectar. Depois, arrancava na sua já muito usada carrinha FORD, que tinha um megafone no tecto, e começava a ladainha já de todos conhecida: “Esta noite na Abrunheira, às nove e meia da noite, na sala da URCA, pode ver um magnífico filme de Trinitá, o Cowboy Implacável…”. E quando não era o Trinitá, era outro personagem do género.
Foram anos a fio que nós íamos ver os filmes, muitos meses - ou mesmo anos - depois de terem sido lançados no circuito comercial, e em tamanho reduzido, mas estávamos lá. Bom ou mau, foi um serviço que se perdeu. Na altura, muita gente não tinha recursos para ver um filme noutro local, e aquelas sessões supriam essas carências."

Frederico