sábado, 22 de dezembro de 2007

Mão Estendida

Ontem, recebi um e-mail do amigo Silvestre, mas só hoje vi. Por isso peço desculpa, mas mesmo um dia depois continua actual.
"A mão direita segura estendida um copito de plástico que se estica, de cada vez que passa uma pessoa que vai naquele tempo da vida que cada um vive.

A mão direita segura a esperança para um dia e uma noite mais aconchegada, neste inverno da vida envergonhada com lenço e cachecol de volta do pescoço e cabeça que mal se vê sinal de pessoa.

A mão direita segura a esmola dada por “dá cá aquela palha”, assim, de alívio de consciência.

A mão direita segura a diária do caldo, quase sempre entornado, para conseguir aquecer as tripas geladas de vazias de vida com dignidade, porque a fome é indigna e inimiga da mão direita que segura o peso do desprezo da sociedade feita por mim e por todos eles.

A mão direita segura o frio da alma dos corpos combalidos com falta de caldo, com falta da manta, com falta dos casacos, com falta das botas grossas, com falta do gorro quente, com falta do colchão, com falta do pão, com falta do leite, com falta de amor, com falta de compaixão, com falta… só falta, falta….

Neste final de Sexta-Feira, véspera de Natal que é na Terça, o trânsito é mais que muito, nos parques do shopping , Retail Park e outros , não há lugares, as lojas estão cheias de almas penadas com esperança de resolverem o problema do mundo oferecendo uma futilidade qualquer.

Neste final de Sexta-Feira, véspera de Natal que é na Terça, uma mão direita, que podia ser a esquerda, segura um copito de plástico que se estica cada vez que passa uma pessoa apressada para ganhar vez na loja inútil com prendas inúteis para oferta inútil.

A mão direita está estendida sempre, em todos os dias do ano, e só agora é que a vimos…. "

21.12.2007
Silvestre Félix