terça-feira, 8 de janeiro de 2008

O mar enrola na areia....

Mais uma história contada na 1ª pessoa.

"À boleia da passagem da “analógica” para a “digital” (a televisão), vamos ter um quinto canal generalista lá para 2009.
Seria Verão ou Primavera de 1958, que estava quente estava, e eu no “Pocinhas” em Ranholas que ainda hoje lá está, com a minha Irmã Felicidade, uma laranjada e um pires de amendoins antes negociados dos poucos trocos da minha Mãe. O dia era de festa porque era Domingo e a caixa pendurada na parede do fundo não parava de mexer imagens e, quando percebi o que se estava a passar, lembro-me como se fosse ontem, da imagem de praia e o suposto cantor a fugir das ondas e a música “o mar enrola na areia….”, só sei este bocadinho do refrão.
Nunca tinha visto aquela caixinha com imagens a mexer, e não foi fácil explicar depois à minha Mãe lá no Casal Novo onde os meus Pais eram caseiros num sítio que se chamava Vale Porcas e hoje, como por magia, se chama Vale Flores. O Casal Novo hoje serve de ligação entre Chão de Meninos e Mem Martins que a Minha Mãe nunca quis lá passar para não deturpar a imagem que tinha de todos os produtos hortícolas que, com o Meu Pai, produzia naqueles canteiros até quase à Chancuda dum lado e do outro até a extrema do Ti Zé da Charneca. E se lembrava, a Minha Mãe, como se lembra o Meu Irmão Vitor do caminho percorrido na garupa duma Burra Carocha com uma bilha de leite em cada alforge, pelo caminho ladeado pelos canaviais, passando o ribeiro ao fundo, seguindo o caminho até ao chafariz da Charneca, que lá continua, com muito tempo contado em anos desde a D. Maria II ainda antes 25 ou 30 anos de começar o século IXX, entrando na estrada antiga e cortando para a Abrunheira a coberto dos eucaliptos até chegar ao posto do leite e voltando na “brasa” pelo mesmo caminho já noite, não sem antes parar na Taberna do Faial para comprar o recado recebido da Minha Mãe. Vale de Porcas também era nome, nunca percebi em que tempo e porque mudou.
Acho que desde aquele dia e mais algum a seguir, em que pela primeira vez vi a caixinha mágica, nunca mais entrei no Pocinhas, até que, num certo fim de dia de 1979, vinha eu de S. Pedro dos meus compromissos autárquicos com o António Bento, e, já não me lembro bem porquê, provavelmente para falar com alguém por causa de constituição de mesas para eleições, paramos no Pocinhas. Estava naquela altura complicada da chegada do Ayatola Komeiny ao Irão, eram essas as notícias que estavam a dar numa televisão a cores. Sim! A cores! Em Portugal era a primeira vez que estava a ver uma televisão a cores. Só no dia seguinte me lembrei que tinha sido exactamente no mesmo sítio, que tinha visto televisão pela primeira vez, aí uns 21 anos antes com uma laranjada e um pires de amendoins e ouvindo “…O Mar Enrola na Areia…” Há coincidências…. Ou não??? "