terça-feira, 6 de maio de 2008

Abrunheira Terra com História

Depois de uma grande ausência, que espero não tenha sido por motivos de saúde, o Silvestre regressou.
Bem vindo

Naquela época as profissões serviam de “apelido” ao chefe de família e, por sua vez, aos filhos e enteados. Este hábito colava nos Abrunhenses e em todos os habitantes das outras Terras de tamanho e feitio idêntico, neste rectângulo à beira mar plantado.
Desde esse tempo passado e contado em anos, lembro-me de um “Zé”, “Manel”, “Chico” ou mais uma dúzia de nomes, seguido de: Sapateiro, Serralheiro, Carpinteiro, Pedreiro, Calceteiro, electricista, leiteiro, peixeiro, etc, etc.
Muito ligado a este costume de chamar pela forma de labuta, levada todos os dias, porque ainda hoje é difícil arranjar outras maneiras de trazer dinheiro suficiente para pôr comidinha na mesa, está também o abreviamento do “apelido”, no caso quero destacar como se chamava “peixeira(o)”. Assim, a primeira sílaba ficava só com “pi” e o “i” muito sumido, em vez de “pei”, logo, em vez de “Peixeira” seria “Pixeira” e quase “P’xeira”.
Vem isto a propósito, não do novo acordo ortográfico, mas da nossa querida “P’xeira” Ti Aurélia. Muitos se lembrarão dela, sempre com a sua Filha Lucinda na fralda do seu avental e caminhando pelas poucas ruas da Abrunheira daquele tempo, vendendo os seus chicharros, pescadinhas de rabo na boca, Joaquinzinhos, sardinha, chocos, fanecas, cachuchos e outros sempre fresquinhos que todas as noites viajavam da lota de Cascais trazidos pelo Ti João Pinto, para nós Ti João “P’xeiro” e seus Filhos João, Eurico ou Jaime.
A Ti Aurélia, que só de boa gente falo eu, era uma jóia de pessoa como dizia a minha Mãe. Era das pessoas que a minha Mãe gostava muito. Desde essa juventude na idade que lá ficou, que tinha muita simpatia por esta Ti Aurélia que todos conheciam por “P’xeira”.
O Ti João, tinha aqui na Abrunheira a sua morada e entreposto, mas vendia em Mem Martins. Todos os dias com o seu inseparável cigarro e bigodinho à maneira, lá ia na motoreta e atrelado com o seu peixinho fresco para Mem Martins.
A Abrunheira e a sua Gente tem História.
Silvestre Félix
Maio de 2008