sábado, 9 de fevereiro de 2008

Por esses caminhos acima


Uma história do colaborador Silvestre;

“Por esses caminhos acima” chegamos à Colónia naquela época, hoje chegamos ao Estabelecimento Prisional de Sintra. Muito tempo passado em anos contados com quatro paredes muito apertadas pela sociedade madrasta dos homens feitos neste tempo enviesado e ausente de valores criados pela mão do homem e da mulher Mãe, incapaz de fazer a curva do sucesso socialmente aceite.
-Oh filho! Vê lá, tem cuidado, porque eles andam sempre por aí.
-É verdade Mãe, eles andam sempre aí, mas não é só “por esses caminhos acima” eles estão por todo o lado, nos sítios onde menos esperamos, aí estão eles. Na maior parte das vezes estão ao pé de nós e não os vemos, tem ocasiões que até dizem que são nossos amigos e depois de contarmos dias, meses, anos se for preciso, olhamos duas vezes seguidas, com olhos de ver, sim, porque muitas vezes olhamos e não estamos a ver, e assim, com olhos de ver, conseguimos descortinar que não são eles mas sim os outros, aqueles que a minha Mãe sempre me avisava;
-Cuidado filho, não acredites sempre à primeira, tens de esperar o teu tempo, não vás de repente “por esses caminhos acima”.
O tempo vai sendo contado e muita água vai correndo pelo rio das Sesmarias…. sempre a correr…. até quando não chove, ela, a água, corre…. corre, neste caso, pelo rio das Sesmarias abaixo, e já no verão da vida consigo também ver com olhos de ver o contrário para acreditar nos homens andarilhos, e sempre que acontece, a verdade dos sentimentos é tão firme e forte, como o leito do rio das Sesmarias, depois de assoreado para se lhe tirar a sujidade e as areias que mantinham a estrada principal da Abrunheira transitável, ainda que só por lá passassem as carroças, os carros de bois e, uma vez por ano, a máquina debulhadora dos cereais produzidos pelas searas do meu Avô e Padrinho Silvestre (Velho) , e depois, para o tractor e carro do João de Leião, único na Abrunheira durante muitos anos.
Lembro-me dum, de meados da década de 1950, que era verde da marca opel e modelo kadette. É isso mesmo , os princípios e os sentimentos só valem se forem como o leito do rio das Sesmarias ; Profundos e limpos!
Se usarmos para os nossos sentimentos, o mesmo critério do leito do rio das Sesmarias depois de assoreado, conseguimos, nós e os próximos, ser mais felizes, e acreditar que podemos ir “Por esses caminhos acima”.
Silvestre Félix
Fevereiro de 2008