sexta-feira, 4 de julho de 2008

O Trilho II...

Ia cumpridor aquele Verão de “calorzito” como manda a regra e, embora na Abrunheira já naquela época, se sentisse o ventinho chegado lá da nortada, não era suficiente para arrefecer o ambiente Abrunhense. Aquela transição do Julho para o Agosto que era tempo de férias para os Abrunhenses, as eiras tinham o seu período de ponta e, lá estava o Mané Guilherme de volta do Ti Victor para lhe dar conta da necessidade do seu filho e rapazola Bernardino que ainda não era Coutinho , se sentar na traseira do “trilho” com o aparador de “bosta” para que a semente fosse recolhida e ensacada livre de “merdança”.
O Mané Guilherme, Pai do nosso já referido e conhecido “Pechincha” , que lembro sempre ligado à fruta de época com armazém logo a seguir à antiga “Sociedade” na esquina da azinhaga para o nosso rio das Sesmarias e em frente à horta do “Manel Lopes”. Naquele armazém se escolhia as laranjas, as maças, as peras e sei lá mais o quê, Só sei que quando era tempo deste trabalho os “putos” Abrunhenses não largavam a porta e, nunca perdiam o tempo porque o Pechincha era uma boa pessoa e distribuía fruta pelo pessoal. O seu homem permanente na Abrunheira era o Ti Mendes protegido da “Mariazinha” que era esposa do Pechincha. A figura do Ti Mendes era de velhinho com grandes barbas brancas e cachimbo de cana sempre feito pelo próprio. Eu assisti à “construção” do cachimbo mais duma vez.
Bom, voltando ao Pai do Pechincha, o Mané (Manuel) Guilherme e o nosso conhecido Bernardino que ainda não era Coutinho.
O Mané Guilherme, homem de muitas posses para a época, vivia com a família, não tenho bem a certeza, se onde é hoje a casa do Eurico Pinto, ou ao lado na que está ligada à antiga Sociedade e onde depois conheci de lá morador, o Ti Simões. Seria numa ou noutra e a sua eira era em frente, onde hoje existe uma moradia.
Ah rapaz, endireita-me esse aparador, olha que o animal vai cag… agora, oh rapaz olha-me pra frente, ah rapaz isto…, oh rapaz aquilo, e o Bernardino que ainda não era Coutinho e gostava era da arte de “Cabouqueiro” e queria aprender a “Ciência da Pedra” e que naquele tempo ainda não sonhava levantar outros voos, já não tinha paciência para aturar o Mané Guilherme, e num minuto de desespero, desce do assento do trilho, atira com o aparador de Mer… e, perante a estupefacção do Mané Guilherme, o Bernardino que ainda não era Coutinho disparou na sua direcção alguns impropérios e finalizou com; Estou farto de o ouvir falar em Mer…, mas oh Bernardino volta pró assento do trilho senão o “malhado” cag…-me a palha toda! (diz o Mané G) o quê? Vá você! (diz o Bernardino) e desata a correr desaparecendo na direcção do Chafariz.
O Mané Guilherme não podia levar à paciência e até espumava p’la boca, considerou uma grande ofensa porque o rapaz o mandou “prá merda”. Sabemos nós, do Bernardino que ainda não era Coutinho a gente já sabe muita coisa, que não era isso que o rapazola queria dizer, simplesmente que fosse ele (o Mané G.) para o assento, mas o homem estava numa onda diferente e entendeu pelo pior e foi logo ter com a mulher; Então não querem lá ver, o rapaz do Victor mandou-me à mer…. O quê? (Pergunta a mulher) sim, mandou-me à mer…, (nisto chega o Ti Victor). Oh Victor sabes o que é que o teu filho fez? (pergunta o Mané G) O que foi? (pergunta o Ti Victor) Mandou-me à mer…(responde o Mané G) O quê? Não pode ser! (diz o Tio Victor) Ai pode, pode!(diz o Mané G) Logo de seguida chega a Ti Mariana Soleta e o Ti Victor; Então não queres saber? (O quê “Bitro”?) O Bernardino mandou o Ti Guilherme à mer… O quê?.....(pergunta a Ti Mariana)
Bom, meia - hora depois, toda a gente na Abrunheira já sabia do sucedido.
Moral da “estória”; Nunca na Abrunheira se falou tanto de mer… como naquele dia, mas é preciso muito cuidado. Com muito tempo passado contado em muitos, muitos anos, devemos estar muito atentos e de olfacto bem apurado porque… vontade não lhes falta….


Silvestre Félix